terça-feira, 5 de abril de 2016

Golper

Psicose e Fascismo: Só Falta ISIS
Carlos A. Lungarzo
Não é nova a teoria de que o fascismo é, em seus modelos extremos, um processo de desumanização, entre cujos sintomas, nem sempre os mais notórios, pode haver alguma forma de demência.
W. Reich, Erich Fromm e muitos outros intelectuais de meados do século 20º estudaram este problema, que preocupou a sociedade democrática por sua capacidade de ter infundido um ódio coletivo que cobrou pelo menos 15 milhões de vítimas nos campos de extermínio.
Acho que a qualificação das pessoas em “boas” e “más” seguindo um critério teológico, só faz aumentar o ódio, e, pior ainda, protelar a solução. Demência pode ter cura, embora isso aconteça numa minoria dos casos.
Os golpistas brasileiros de hoje são, em sua maioria, não psicóticos. Seu ódio está baseado em sua frustração, sua mediocridade, sua mente tacanha, e, sobretudo, em sua voracidade de lucro. Afinal, o Brasil, colocado a venda sem qualquer “preconceito” humanista ou social, deve render vários trilhões de dólares, muito mais que o PIB dos EUA.
Mas, há alguns casos particulares. Entre eles, estão os que chegaram à psicose por hipertrofia de uma mania de grandeza. Não estou, com certeza, endossando teses freudianas, porém narcisismo e paranoia tem seu lugar na psiquiatria científica, embora suas explicações nada tenham a ver com a mitologia do Dr. Sigmund.
No caso do golpe, os exemplos paradigmáticos são os autores do libelo de acusação contra D. Rousseff, um libelo que, com muita energia, porém singular elegância foi desconstruído até o último átomo na defesa do Advogado Geral da União, J. E. Cardozo.
Obviamente, era necessário julgar esse monte de non-senses unidos por frases de ódios e citações teológicas, porque, afinal, esse é o trabalho do advogado, e a implosão desse triste cenário incoerência pode ajudar a que uma minoria menos mercenária e cínica se decida a revisar uma indecisão.
Para quem não tem essa obrigação, o panfleto é um prato cheio de diagnósticos sombrios.
Num dos autores, percebe-se a frustração, que já tem muito anos, de ter sido marginalizado pelo partido que, na hora do entusiasmo revolucionário e levado também por certa empolgação pelo sucesso, o escolheu para as candidaturas mais importantes.
Um grave erro: um partido democrático e progressista, não pode incluir em suas fileiras os que negam direitos às mulheres, opõem-se ao planejamento da vida familiar, defendem o obscurantismo e se deixam transformar em heróis por fazer aquilo que, num país civilizado, qualquer agente do MP faria: denunciar os grupos parapoliciais.
Outro é um balbuciante defensor das tradições de sua família, dos bons anos (que ele não conheceu) do Sigma Reluzente, da amizade com Mussolini, e do “glorioso” golpe de 1938. Como já não se fazem golpes como antigamente, hoje devemos ficar contentes com apenas um golpe por fraude constitucional.
Mas, estes casos são descartáveis. Estas pessoas nada representam no presente nem sequer no futuro. Apenas podem ser manipuladas pelo mais ativos e bem sucedidos.
Os dois juristas representam, respetivamente, o ressentimento de que a democracia parecesse próxima a crescer (uma ilusão que, perdendo ou ganhando, este golpe pode abortar por muitas décadas), e o ressentimento pessoal de não ter sido aclamado como estrela dos direitos humanos.
Muito interessante é que ambos representam variantes da doutrina católica: uma delas é a visão ultramontana dos integralistas, a outra é a visão “caridosa” da assim chamada teologia da libertação.
Finalmente, temos a jovem missionária da nova fé, aquele que faz milagres e cobra dízimo. Das grandes religiões do planeta (católica, evangélica e muçulmana) falta apenas um representante ortodoxo do Corão. Eu penso que, já que foram feitos tantos libelos a favor do golpe, por que não se faz um terceiro, com a participação de um jurista do Estado Islâmico?
Embora ache tragicômico o papel representado pelos libelistas de maior cacife, quero destacar que é muito diferente a situação da jovem jurista arrastada a este caos conceitual e político.
Embora ninguém possa ler na mente alheia, tudo indica, que a jovem jurista não é uma pessoa que se está valendo do prestígio dos juristas veteranos para ficar famosa. Porque, afinal, qual é realmente esse prestígio/
Parece óbvio que esta jovem está (como muitos outros radicais religiosos da história) possuída por uma forma de misticismo que a conduz a pensar que foi eleita por Deus para salvar o Brasil, como aconteceu, 600 anos antes, com Joanna d’Arc.
No fundo, a jovem jurista não tem nada concreto a ganhar. Talvez nem seja convidada à partilha de bolo se os golpistas ganhassem. Por outro lado, está frustrando sua possibilidade de ser considerada uma profissional séria.
É suficiente ter convivido algum tempo no ambiente acadêmico para perceber aqui um caso de pessoa manipulada por seu orientador. Isso acontece nas universidades paulista centenas de vezes por ano. Geralmente, alunos honestos sentiam mal estar por virar reféns do orientador. Já alunos oportunistas viam isto como grande ensejo para subir pela pirâmide profissional. Finalmente, os mais alienados sentiam-se abençoados por pela escolha de seus “mestres” como continuadores de sua obra.
(E os alunos bons e honestos? Ah, esses mudavam de orientador)
O Vídeo em anexo justifica, unido a outros dados, minhas conjeturas. É de uma crueldade espantosa a falta de escrúpulos dos golpistas ao aproveitar as doenças das pessoas para tirar proveito delas. Creio que a USP deveria cuidar dela, e brindar-lhe a possibilidade de fazer uma carreira profissional séria. Ninguém disse que não tenha capacidade. O célebre economista e matemático Nash, ganhador do prêmio Nobel, sofreu de delírios durante toda sua vida.